12.28.2015

A casa de luxo


Faz já muitos anos que vi pela primeira vez uma obra de Rudolph Shindler. Situa-se na Kigns Road famosa via no estado da Califórnia e foi construída em 1922. Frequentada por John Cage, Frank Lloyd Wright, Edward Weston, reunia nela o ambiente cultural vanguardista da sociedade californiana.
Mas curiosamente ou não, ela foi efectivamente desenhada para duas famílias, a famíla Shindler e a família Chace, mas com vista a uma profunda independência para as quatro pessoas que compunham os dois casais. No fundo, Schindler concebe 5 estúdios para quatro pessoas e convidados.
 

Jardim da Casa Schindler



Quarto em forma de tenda na cobertura

Sala comum

Do ponto de vista da estratégia concebem-se três casas em L que geram múltiplos pátios à sua volta. Cada L serve duas pessoas. As camas estão na cobertura numa espécie de tenda. No rés-do-chão estão as salas, cozinhas e casas de banho de cada apartamento. No centro, uma grande sala para a vida social.

O espaço flui constantemente e desaparece por entre as árvores do jardim. Sentimos a opulência do vazio e parece que viajamos para Katsura. Só que aqui, nesta natureza e nestes espaços, o silêncio é composto por festas e discussões acaloradas pela sociedade boémia californiana.

Schindler é um visionário, na exacta medida em que define ainda hoje o standard daquilo que viria a significar a vivência da casa de luxo. E define-a não só para a Califórnia como para o mundo através de reproduções, interpretações e adulterações constantes de Hollywood.

Schindler é ao mesmo tempo um conservador pois resiste a industrializar a arquitectura, e mantém-se no mundo do artesanato. Decisão essa que lhe valeria uma disputa com Neutra ( Mas isso falaremos um outro dia...) 




Cozinha
Lareira numa das salas
 
Mas o que é então o luxo? 

O luxo são 330m2 de construção? O luxo é um jardim de 1900m2? O luxo são os materiais? É a madeira de sequóia? São os tecidos de algodão e seda? É um quarto na cobertura com vista para as estrelas? É viver com os amigos numa organização tipo república académica? É ter como amigos os maiores vultos da cultura do nosso século?
Sinceramente, parece-me que sim. O luxo é tudo isto. E creio que não é mesmo fácil fazer algo tão luxuoso.


9.22.2015

Arquitecto João Rocha

João Álvaro Rocha, o arquitecto do Porto

Tenho uma certa dificuldade em falar de um arquitecto que conheci pessoalmente e que foi meu professor, meu patrão e também meu amigo. Contudo, não seria justo se não referisse as excepcionais qualidades deste verdadeiro arquitecto do Porto de nome João Álvaro Rocha. Trata-se de um criador de uma arquitectura verdadeiramente moderna e enormemente contemporânea.
Este arquiteto possui uma qualidade que nunca encontrei na mesma quantidade em mais nenhum outro: o rigor. João Rocha trabalhava obsessivamente o detalhe e o conceito. E trabalhava-o no sentido de procurar a obra perfeita. E na realidade não só a procurava como a encontrava.
Cada gesto, cada proporção, cada alinhamento, cada material, era proposto no sentido de fortalecer o conceito formal da proposto e atingir uma serinidade que só encontramos nos grandes mestres.
O complexo de habitação social em Penela da sua autoria é um exemplo perfeito a este nível. Uma só janela, uma só solução construtiva e uma exuberante diversidade formal que se relaciona e se integra de modo cuidado com toda a topografia existente e a morfologia da ocupação do território envolvente.
Quando caminhamos no PER de habitação social de Penela sentimos que tudo resulta de um trabalho, de uma pergunta ou de um argumento. Quando passeamos no jardim, olhamos a varanda ou a entrada, encontramos uma razão de ser em cada torção, cada cor, cada pormenor. E só podia ser assim...

Habitação social em Penela

Habitação Social em Penela














Jardim Exterior


Varanda
Entrada

2.16.2015

O arquitecto no Porto - Júlio de Brito

Creio que é altura de fazer uma justa homenagem a um grande arquitecto do Porto. O destino acabou por me fazer cruzar com um dos seus projectos e creio que é mais que justo falar aqui deste enorme vulto da cultura portuguesa. Refiro-me a Júlio de Brito, grande impulsionador do modernismo em Portugal e particularmente no Porto.
O Porto foi durante o século XX um espaço de liberdade estética como não havia em mais nenhum sítio de Portugal continental. Mas essa liberdade era conquistada todos os dias pelos arquitectos. Júlio de Brito foi um desses heróis silenciosos. Introduziu a arquitectura moderna no quotidiano dos portugueses e portuenses e adaptava-a à realidade social e constructiva existente. asua cultura erudita permitia também que a fundisse com outros movimentos estéticos de vanguarda do século XX como a "art déco".
Encontramos obras da sua autoria como o Coliseu do Porto, o teatro Rivoli, a Junta de freguesia de Cedofeita, o café Aviz, e outros tantos.
A utopia foi recentemente contratada para a reabilitação de um edifício da autoria deste arquitecto do Porto, e quero aqui deixar claro que respeitaremos integralmente esta herança de enorme valor artístico, arquitectónico e porque não, político.
Em baixo fica aqui uma pequena amostra do seu trabalho no teatro Rivoli do Porto, obra essa que sofreu recentemente a excelente intervenção do arquitecto Pedro Ramalho.
O modernismo do Porto foi e continua a ser resultante da sua sociedade. Cabe-nos a todos defender esse património e divulgá-lo ao máximo.

Teatro Rivoli do arquitecto do Porto Júlio de Brito

Fachada lateral do Rivoli - arquitecto portuense Júlio de Brito

Interior do Rivoli - arquitectos Ramalho e anteriormente Brito